Sou um ciclista de longa data.
Muitas pessoas, ao perceberem meu entusiasmo
por esta atividade confessaram não saber pedalar. Tinham medo, do inevitável
tombo, da falta de equilíbrio ou até, meninas já bem crescidas, mães de longa
data e ou avós, do mito que pedalar faz perder a virgindade ou acabar com
aquilo que restava. E o receio da dor
que poderia advir na região onde a carne mais abunda!
Haviam aquelas que aprenderam a pedalar na
infância e sei lá porquê deixaram de o fazer.
Ah! Tinha os meus netos!
Fui “coach” de vários na situação: Gostaria de
pedalar, mas não consigo!
Investido daquela indignação quase pueril
própria da maioria dos ciclistas fanáticos costuma ostentar resolvi me dedicar
a ensinar estas pessoas a andar de bike.
Além da vontade um problema: Como fazer meu
querido aluno adquirir o equilíbrio necessário para pedalar sem ter que ficar
correndo loucamente atrás dele segurando seu selim ou lidar com a existência de
rodinhas para marmanjos iniciantes. Cinco minutos de treino e eu, o professor,
estaria numa maca usando um tubo de oxigênio.
Não me recordo de onde me veio o método de
ensinar mas sei que não fui eu quem o criou! Só me lembro que li o seu uso em
crianças para ensina-los a pedalar sem as rodinhas.
A essência do método adotado foi
incorporar a evolução da bike no aprendizado. A primeira bicicleta, criada por
Leonardo da Vinci, não tinha correntes ou pedais. Era um quadro, guidom e selim
de madeira onde o cidadão se movia sentado na estrutura e se impulsionava
empurrando o chão com os pés.
A sacada do método é retirar o medo de cair, de estar longe do chão. Arruma-se uma bicicleta e se regula o selim de forma que o candidato a ciclista possa pôr os pés no chão. Retira-se os pedais e faça-o andar numa rua de leve declive com a bike acoplada entre as pernas (como na figura). A medida que ele se familiariza com o movimento de andar com a bike, proponha impulsos maiores, economizando passadas. Após sucessivas tentativas o aluno conseguirá descer o declive colocando os pés para cima sem ter que os pôs no chão. Deixou de ser candidato e virou um ciclista inexperiente.
Reponha os pedais e proponha: Ao invés de pôr
os pés para cima, ele que os apoie nos pedais ou até gire os pedais, mas sem
fazer esforço. Depois o mesmo exercício,
mas com o uso da força nas pernas. Pronto! O equilíbrio foi encontrado e você
“coach” só ficou observando. Em três dias de “aula” no máximo ele passa a ser
um novato.
Aí, vá pedalar com ele num parque e observe a
reação. Choro, orgulho, felicidade!
Existem diversas analogias desta situação com
os processos de transformação que possamos ensejar na vida. E para quem se
dedica a atividade de coaching mais ainda.
Vemos contemplados conceitos e ações
envolvendo o “estado atual”, “estado desejado”, plano de ação, metas, crenças
limitantes...
Mas a questão que mais me chama a atenção, para
fazer algo tão inusitado quanto pedalar pela primeira vez com mais de 50 anos é
preciso ter a segurança de ter o “pé no chão”. Depois se consegue locomover de
outra forma e ter prazer nisto.
Escrevi em outro texto, “Começar não é fácil! Sentimentos de
expectativas, insegurança, medo de errar, de não errar, mesmo assim não vai dar
certos... todos os tipos de ansiedades e incertezas afloram, é o medo do
desconhecido, é nosso natural alerta de preservação. Sentimos por vezes
navegando em águas turbulentas ou em “mares nunca dante navegados”. Faz falta
aquela maquininha ou um recurso áudio visual para que pudéssemos enxergar o
futuro para termos a certeza que o caminho foi adequado. ”
Nós humanos temos uma mente
curiosa. Não nos requer muito esforço
imaginar. Conseguimos facilmente viajar nas estrelas a bordo da nave
Interprise, estabelecermos relações de hierárquicas inferiores com o Capitão
Kirk e tentarmos sermos amigos do Spok, se seu jeito Vulcano de ser lhe
permitir. Assim também nos viajarmos e nos iludir com as nossas metas e planos
de ação.
Começar requer segurança, demanda “pé no
chão”. Para aqueles que estão a iniciar ou em processo de busca de novas metas
na vida é essencial a reflexão: O quanto aquilo que pretendo é realístico, o
quanto estarei pisando em terreno conhecido ou enquanto estarei viajando.
Na minha concepção, ser e atuar como
coach é fazer o coachee (cliente) lidar com o medo do desconhecido, fazendo-o
perceber que tem o pé no chão ou o chão está próximo.
Então, qual a receita? Simples, isto não
é um bolo, não tem receita!
Atuar “pé no chão” é pressupor uma
“certeza” que as decisões e os planos a serem tomados são os mais realistas
possíveis, que as variáveis controláveis e os riscos estão sendo avaliados.
Temos que incorporar questões como, quais são as perdas e ganhos e dificuldades
no caminho percorrido, quem serão os protagonistas ou atores da nova realidade
pretendida, que papel desempenharão. Quais são os cenários possíveis e quais
são os eventuais planos de contingência. Este procedimento é bê-á-bá em
planejamento estratégico e mercadológico.
Implementar esta condução, exige de nós
profissionais de coach e outros que lidam com mentes humanas escuta muito atenta,
trazer o “pé no chão” de forma cirúrgica nas perguntas, faze-lo detalhar
cenários pois a nossa missão como coach não é apenas um compromisso com a meta
de nosso cliente, mas com a viabilidade dele a atingir. Se o cliente desanima,
muda ou desiste da meta, em algo erramos, ele não enxergou o chão!
Albert Einstein, gênio da física, era também um excelente
frasista. É dele esta perola: “A vida é igual andar de bicicleta. Para manter o
equilíbrio é preciso se manter em movimento” e como ciclista modestamente
completo “e leia o terreno por onde vai passar e não perca o chão e seus
obstáculos de vista”.
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